segunda-feira, 23 de março de 2009

Audax 200 Brasília 2009 - Relato por Jorge Henrique.

O último cozinheiro do Antrax 200 de 2009

Em janeiro deste ano eu recebi um e-mail enviado primeiramente por alguém do pedal noturno e repassado por algum amigo meu para mim. Tal email tinha no título [PNDF] e tratava sobre algum assunto de bicicleta e no corpo do e-mail falava alguma coisa sobre o grupo Pedal Noturno. Pesquisei na internet esse tal Pedal Noturno e no site também encontrei um link para o Rebas do Cerrado e comecei a futicar os sites e achei tudo muito legal, e me veio a cabeça taí uma coisa que eu poderia fazer e que eu não ia ficar entediado.


No dia 18 de janeiro, fui numa trilha do Rebas lá no Burle Max e resolvi ir na cara de pau por esse motivo. Nas pequenas e poucas subidinhas quase morri. Num determinado momento estava meio perdido e comecei a seguir um grupo que tinha um cara que estava planilhando: é por aqui, é por ali. Rapidamente percebia-se o seu sotaque gauchesco e o apelido: Gaúcho. Na subidinha no final não consegui acompanhar a galera e fiquei para traz, mas cheguei são e salvo, com o coração na garganta.


No dia 11 de fevereiro (numa quarta-feira) , fui no meu primeiro pedal noturno, num passeio que pegava a ponte Costa e Silva e ia até o aeroporto e voltava. Como não tinha certeza que iria conseguir, pedi para que minha mulher Anapaula fosse fazendo a escolta, pois caso eu desistisse era só jogar a bike no carro e fugir. Mas apesar das dificuldades consegui chegar e neste dia conheci o Alexandre e o Oscar que ficaram de bate papo comigo após o passeio e me incentivaram a voltar e voltar com minha mulher também. Já nesse dia eu ouvi algumas pessoas comentando sobre um tal de Audax que andava 200 km  de bike, aí eu pensei: tem que ser maluco para ir num troço desses.
No dia 12 de fevereiro (quinta-feira) : foi o pedal dos três subidões federais do lago sul. Aí eu pensei, eu fiz o pedal de ontem (18km mais ou menos) eu consigo esse também. O quê? Quase morri logo no primeiro subidão da QI 23 do Jardim Biotônico. E o Maurício ficou me incentivando na cozinha para que eu chegasse, por último, mas cheguei.


Esse foi o início do vício da bicicleta, sempre que podia eu ia nos Pedais Noturnos e nas trilhas mais fáceis do Rebas. Minha mulher estava até achando que eu tinha uma amante, ou que eu estava querendo chifrá-la com alguém. Então eu comecei a botar mais pilha nela para ir comigo.
Nos passeios, pela proximidade do evento, sempre o pessoal comentava sobre o Audax. Numa ocasião, na cozinha como sempre, perguntei sobre o Audax, se era muito difícil, como é que era. E o Alexandre e o Paulo me falaram sobre a estratégia de alimentação (batatas e rapadura...) . O Alexandre comentou que psicologicamente você não poderia pensar: andei 2, faltam 198, andei 10 faltam 190... O esquema é: vou fazer 50 km, já fiz 50, vamos para os próximos 50 e por aí vai e o que se alcaçar está beleza. Então comecei a pensar: tô afim de ir nessa parada! Aí a consciência: tá maluco? E eu pensava: tô e daí?


E nos pedais da noite o pessoal sempre comentava sobre o tema recorrente: o Audax. Cada dia eu ficava mais interessado nessa parada. A decisão veio quando o Luiz Paulo estava mandou um e-mail falando sobre a formação do pelotão da cozinha do Audax. Na hora fiz minha inscrição e paguei. Gostei até do meu número: 257.


Fiz os exames para tirar o atestado de "longa duração" e já tive uma surpreza: meus exames de sangue mostraram que os colesteróis e triglicerídeos estavam muito bem e o exame de esforço deu capacidade cardio respiratória superior. Esses exames estavam sempre ruins a alguns anos. Ontem passei andando a maior parte do tempo com dois parceiros: o Leonardo (282) e o Eugênio (285). Que foram me incentivando e me ajudaram muito quando furou meu pneu na subida após o viaduto de águas lindas: me ajudaram e me acalmaram diante do desespero. Ainda bem que logo apareceu o Amilcar de carro para nos dar um apoio na segurança, pois ali é meio barra pesada.


Eu vinha num ritmo razoavel, mas depois desta parada do pneu furado, eu quiz recuperar o tempo perdido e acabei me desgastando além do normal e não estava conseguindo ir mais rápido nas subidas. E acabei ficando para tráz na subida para o balão do Gama. Cheguei no PR do balão do Gama já querendo desistir e perguntei para o Alexandre: "não dá mais tempo, né?" e disse "claro que dá! nesse ritmo que você vem vindo você chega!" e assim continuei. Na descida do Parque Way deu para dar uma gas maior e recuperar um pouco do atraso e consegui chegar no PC do posto "Aqui" do aeroporto. Cheguei tremendo e já quase sem consciência e racicínio. Quando o Marcelino bateu palmas para mim: eu quase chorei. O pessoal pediu o meu cartão para carimbar e eu nem entendí direito o que eles queriam. Tinha um cara lá no PC 3 que percebeu que eu estava abobalhado e encostou minha bicicleta e colocou água para mim, foi muito gentil (muito obrigado mesmo!).


Quando eu estava na ponte JK, sozinho com os carros passando raspando, eu quase desisti e quase chorei de novo, mas eu pense já andei isso tudo para pipocar agora. Não! vou continuar. Mas depois da subida ao lado do Iate Club eu desisti e pensei "não dá mais tempo, vou completar depois do horário máximo, mas chego!". Foi então que o Papai do céu enviou um anjo que chegou num golf prata: o Alexandre. "Vamos embora cara! ainda dá tempo! aperta o pé e vamos embora". Aí eu comecei a apertar o passo e quando chegou a subida após a estação de esgoto da CAESB fiquei desesperado e o Alexandre "Coloca numa marcha mais pesada e falta pouco! Senta o pé!".

Um pouco antes da ponte do Bragueto chegou outro anjo de bicicleta: o Gaúcho e "vamos embora cara! vai ser a mair sacanagem você chegar até aqui e não completar!". "Vamos lá, vamos lá, faltam 6 minutos, dá tempo!". Um pouco mais acima chegaram vários anjos a pé que correram ao meu lado me incentivando: "vamos lá, vamos lá, vamos lá" e interromperam o trânsito para mim.Essas imagens ficarão para sempre em minha memória: o amor e a dedicação!


Quando eu me lembro deste momento: as lágrimas nos olhos são inevitáveis. E na chegada: a patroa (Anapaula) com meu tesouros Luciano e Miguel. Foi muita emoção.Eu não consegui, vocês conseguiram para mim. Eu já havia desistido e vocês me resgataram. Meu muito obrigado, muito obrigado mesmo! A todos vocês: anjos voluntários e coordenadores. Em uma só vida não conseguirei retribuir. Não seria difícil sem vocês: seria impossível!


Alguns amigos que sabiam que eu iria no Audax me ligaram: "aí conseguiu fazer quantos Kms?" e eu "duzentão". Hoje: já estou tirando a maior onda com o certificado: 200 km. 

Um forte abraço a todos.
Jorge Henrique

Um comentário:

  1. Emocionante o relato. Parábens por ter tido a coragem de entrar nessa aventura!

    ResponderExcluir